De pai para filho
No que diz respeito à orfandade, logo se
pensa sobre a criança que perde ao menos algum dos pais, por motivo de morte ou
de não estar mais sob sua tutela. É interessante fazer-se o seguinte
questionamento: quando a criança necessita da presença dos pais e não encontra
a mínima atenção por parte deles, não seria essa uma criança órfã? Pensar na
vida corriqueira e cheia de prioridades dos pais levanta importantes questões
como: alguém está assumindo o papel de formar o caráter dos filhos? Se sim,
quem está? Quais valores estão sendo passados de pai para filho?
É estranho, mas infelizmente possível, falar
atualmente em “órfãos de pais vivos”, na medida em que tanto a figura paterna
quanto a materna são desfiguradas por suas agendas cheias de afazeres, nenhum
incluindo a convivência com os filhos. A ideia do “eu dou (compro) tudo o que
ele precisa” só é válida se a convivência entre pais e filhos for considerada
desnecessária. Este aspecto é tão ilógico, e apesar disso, é comum se encontrar
famílias nas quais a mãe trabalha praticamente para pagar o salário de uma
babá.
Logo, pode-se pensar que quem educa, de fato,
é a babá e futuramente uma instituição de ensino, além do grupo de amizades do
qual a criança faz parte. Há de se pensar se a instituição família gradualmente
vai se desintegrando, na medida em que cede lugar a outras instituições. Os
valores passados de geração a geração obviamente sofrem mudanças no que diz
respeito a um indivíduo não ser capaz de ensinar algo que não aprendeu. Um pai
que não recebeu atenção e convívio saudável de seus próprios pais quando
criança, dificilmente será capaz de fazê-lo aos seus filhos.
Talvez seja um caminho sem volta, mas
certamente é dever de todos refletir sobre essa temática, já que se trata de
algo que afeta a todos na medida em que influencia na estrutura educativa, de
formação do caráter dos indivíduos, enfim, de toda a sociedade. É mais simples
se o problema não for generalizado, mas posto a cada um da seguinte forma:
“quais valores eu estou passando aos meus filhos?”.
Murilo Gabriel Rodrigues[1]
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